Frutas do Cerrado: sabores nativos que nutrem e preservam

Poucos biomas no mundo possuem tamanha riqueza de frutas como o Cerrado brasileiro. Conhecido como a savana mais biodiversa do planeta, esse ecossistema abriga sabores únicos e intensos, capazes de surpreender tanto o paladar quanto a ciência da nutrição. Além de deliciosas, essas frutas carregam tradição, biodiversidade e resistência — são tesouros naturais que precisam ser valorizados e protegidos.

Pequi: o rei do Cerrado

Com aroma forte e sabor inconfundível, o pequi (Caryocar brasiliense) é um dos símbolos da culinária regional. Rico em lipídios, carotenoides e antioxidantes, o fruto é usado em pratos típicos como arroz com pequi, galinhada e farofas. A colheita ocorre de outubro a fevereiro, período em que as famílias extrativistas trabalham em regime de economia solidária. Comer o pequi com cuidado é parte do ritual — o caroço é coberto por espinhos finíssimos que não devem ser mastigados.

Buriti: o fruto da vida

Chamado de “árvore da vida” por comunidades tradicionais, o buriti (Mauritia flexuosa) nasce em veredas e áreas úmidas. Sua polpa alaranjada é rica em vitamina A, fibras e ácidos graxos essenciais. Dele se faz suco, doces, sorvetes e até óleo cosmético com propriedades hidratantes. O buriti também é essencial para aves, peixes e insetos, além de ter valor cultural para povos indígenas e quilombolas.

Cagaita: refrescante e delicada

Menos conhecida fora do Cerrado, a cagaita (Eugenia dysenterica) oferece uma polpa suave e ácida, perfeita para sucos e geleias. Contém alto teor de vitamina C e propriedades digestivas. Frágil e perecível, é uma fruta típica do fim da estação seca, colhida entre setembro e outubro. A cagaita também tem potencial comercial pouco explorado, o que destaca a importância de políticas públicas de incentivo à bioeconomia do Cerrado.

Araticum: sabor e tradição

Também chamado de marolo ou bruto, o araticum (Annona crassiflora) tem aroma intenso e sabor adocicado, lembrando um mix de banana com baunilha. É fonte de vitaminas, minerais e compostos fenólicos com ação antioxidante. Pode ser consumido in natura, em sucos, doces e até licor. É uma das frutas mais apreciadas nas festas do interior, e seu consumo está fortemente ligado à memória afetiva de quem vive no Planalto Central.

Mangaba: delicadeza e resistência

A mangaba (Hancornia speciosa), cujo nome em tupi significa “coisa boa de se pegar”, tem polpa macia e levemente ácida, usada em doces, compotas e sucos. Além de ser rica em vitamina C e potássio, a árvore da mangabeira é símbolo de resistência à degradação do solo e da paisagem. Muito sensível ao manejo predatório, sua preservação depende de práticas sustentáveis e respeito aos ciclos da natureza.

Sabor e conservação andam juntos

As frutas do Cerrado não são apenas fontes de alimento — são guardiãs da cultura, da saúde e da biodiversidade. O avanço do desmatamento e do agronegócio monocultor ameaça essas espécies nativas e os modos de vida que delas dependem. Promover o consumo consciente, valorizar o extrativismo sustentável e incluir esses frutos na alimentação diária é uma forma concreta de preservar o Cerrado.

Cada vez que escolhemos uma fruta do Cerrado, estamos saboreando a natureza e plantando um gesto de conservação.


Equipe Trilhas do Planalto

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